sábado, 10 de novembro de 2012

O mundo vai acabar... E o coração?

Adoraria falar sobre o novo filme do 007 e as grandes habilidades do protagonista - interpretado pelo espetacular Daniel Craig - entre elas a de nos fazer suspirar, mas não é sobre isso o tema desta crônica, infelizmente... Vai ficar para a próxima, porque ainda não vi e para falar bem a verdade, não sou muito fã da série. Mas, sou fã de carteirinha de Adele e a música do filme para mim dá um show à parte e me inspirou uma reflexão.
"Na queda do céu, é onde nós começamos
A milhares de quilômetros e pólos de distância
Onde mundos colidem e dias são escuros
Você pode ter o meu telefone
Você pode saber meu nome
Mas você nunca terá o meu coração"
Então... Eu sei que todos evitam este tema. No facebook, amor parece que não tem muitas curtidas, e falar sobre coração é sempre delicado. Todo mundo gosta de falar de futebol, praia, amigos, cerveja, política, religião, o tempo, a curtição, mas o tal do órgão vital, isso só lembram no dia dos namorados, e olhe lá!

Nasci peixes de águas profundas, por isso não consigo ignorar o que acontece nos tempos atuais. Apostaria muito dinheiro em dizer que a maioria dos leitores, principalmente as leitoras, já sofreram por não entender a falta de disponibilidade para as coisas ligadas ao coração. Amor virou brega, romantismo virou sacal, falar de sentimento é fora de moda. Esta semana a música de Roberto Carlos que embala a novela das nove, que fala de um cara apaixonado, foi apedrejada em praça pública e, pasmem, pelas mulheres. Parece que o legal é o sexo, as sensações, a sedução, os instintos. Mas quanto tempo dura o prazer de um orgasmo se compararmos à sensação de um beijo gostoso? Sexo não é só orgasmo, os tantras já diriam, mas a obsessão por atingi-lo se tornou tão comum que nos leva a pensar no que é realmente importante, o que preenche mais as memórias e a saúde emocional... Quando lembramos de alguém que nos foi muito importante lembramos do tesão ou do toque? Da língua ou do texto?  Do tamanho do órgão sexual, ou do abraço? 

Acho que se o coração tivesse voz, ele estar se sentindo traído por nós, seus usuários. Porque, além de o mal tratarmos fisicamente, estamos ignorando suas necessidades. E trocando isso tudo por drogas, remédios, anfetaminas, fantasias, paranóias e por aí vai... Não seria muito mais fácil segui-lo, celebrar os encontros afortunados e deixá-lo comandar nossas escolhas e ações através de suas batidas fortes e acertivas? O coração nunca está errado. Ele pode às vezes exagerar na dose e a razão tem que entrar para fazer uma certa mediação, mas raramente ele erra. E, quando isso acontece, temos completa conivência. Mesmo assim, eu diria sem nenhuma dúvida, que mesmo quando erra, ele acerta porque o que vem do coração é sempre confortável, mesmo que por tempo limitado. 

E, voltando para a letra de Skyfall. O mundo pode acabar, o céu desabar e tem muita gente com medo de entregar o coração. E, como diriam as nossas avós, quem não arrisca não petisca e quem não morre não vê Deus, então triste de quem prefere as sensações passageiras ao caminho afetuoso do coração. Porque, se por acado o céu desabar mesmo, tchau, tchau amor. E, se o coração partir, ele se reconstrói novamente, sem grande esforço. É só deixá-lo bater, quietinho e faceiro, que ele vai de novo ser o que lhe foi destinado:  a fonte de vida em qualquer situação. 

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Encontros e desencontros - pólos opostos da mesma moeda



Qual a fórmula do encontro perfeito? Isso existe? A expressão "ele/ ela tem tudo a ver comigo" seria necessariamente um prenúncio de que a relação vai ser duradoura? Cada vez mais vemos casais "parecidos" se relacionando e, muitas vezes, casando e construindo família. Mas, este "parecido" na verdade, seria superficial. Numa sociedade em que se valoriza mais as aparências, pombinhos que têm a mesma profissão, frequentam os mesmos lugares, assistem aos mesmos tipos de filmes e cultivam amigos em comum, são os candidatos ao pódio da longevidade, mas eu tenho uma outra teoria. Acho que essas afinidades podem contribuir e muito para o bom entendimento e fluir da relação, mas o amor é outra coisa... Vamos fazer uma viagem no tempo.

No tempos dos meus avós, o relacionamento era feito de paixão e posse. Nos bom e mau sentido das palavras. A paixão levava ao gostar cegamente na pessoa e a posse era o sentido da busca por estabilidade material e emocional. Paixões e posses podiam levar a atitudes extremas, de ciúmes, de loucuras e emoções descontroladas. Meus avós maternos seriam um bom exemplo. Ela, viúva aos dezenove anos, ele um jovem de trinta, divorciado e pai de dois filhos. Os dois se apaixonaram loucamente quando se viram pela primeira vez. Primeiramente, ela lutou contra o sentimento que lhe arrebatava, mas depois, lutou pelo amor, brigou com a família deixou de trabalhar para se casar com meu avô. Ele bancou toda a situação, deu um lar a ela, estabilidade, filhos, mas os dois eram muito diferentes e brigavam constantemente. Meu avô era um boêmio familiar - gostava de beber, dançar, receber os amigos, mas era fiel, romântico, poeta, amava loucamente a minha doce e geniosa avó. Entre trancos e barrancos, ficaram juntos cinquenta anos, até a morte do meu avô. E ela, até o fim da vida, sonhava com o velho, tinha ciúmes dele, saudades, guardava as boas recordações. Ela sofreu sim, abriu mão de coisas importantes e, certamente teve que engolir o orgulho algumas vezes, mas foi feliz, mesmo aturando as bebedeiras do meu queridíssimo avô.

Hoje, vejo mulheres desesperadas por um relacionamento que dure e seja estável, e vejo homens desiludidos e traumatizados com uma ou duas relações frustradas. A conclusão que chego é que nós mulheres precisamos aceitar os defeitos, as diferenças e engolir alguns (vários) sapo, para construirmos a cumplicidade tão desejada - aquela que minha avó sabiamente soube construir e preservar. E quanto aos homens, penso que devem se ser mais generosos também e se sentir menos infalíveis, para que se perdoem pelas falhas, e perdoem suas parceiras, porque elas erram, mas também acertam e podem fazê-los muito felizes. E, para chegar ao título desta crônica, acredito que aquilo que buscamos no outro (o encontro) pode ser também o motivo do afastamento (desencontro) - ou seja, a diferença e não necessariamente a semelhança é que leva ao crescimento, ao perdão, à compaixão. Mas, para isso, é preciso antes nos amarmos na essência, porque enquanto ficarmos ligados ao ego, às aparências, nenhum ser humano vai servir, e todos vão nos magoar, porque todos temos defeitos e imperfeições. E eu pergunto: se a perfeição só existe na mente, vale à pena passar uma vida inteira sozinho?

Então, moçada, pra que perder tempo? Vamos à luta com peito aberto. Abram seus corações e deixem cair as máscaras. Se um sapo aparecer, transforme-o num príncipe. O espelho é seu!!!