quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Quanto tempo dura uma fossa?


A bela música da diva inglesa chama-se Don't you remember?, na tradução livre Você não se lembra? e , na sequência, "a razão pela qual você me amou?". Toda a letra, como já prenuncia o título, faz um apelo angustiado por respostas para um término de relacionamento. E ainda emite uma esperançazinha melancólica de que o fim ainda não chegou, ou que o casal ainda vai se amar novamente. E aí, caro leitor, eu te pergunto, quanto tempo dura uma fossa, um luto, uma dor de cotovelo? Todo mundo já esteve nesse lugar, eu posso garantir, mas esse tempo não é o mesmo para todos, eu também sei.

A cantora inglesa está nos topos das paradas mundiais com um álbum inteiro de canções que percorrem e remexem e discutem e relembram e futricam todas as nuances desse rompimento, que parece ter sido importante e doloroso. Acho, particularmente, Adele muito corajosa e sincera, porque é difícil admitir, mas tem umas fossas que custam viu... E talvez, quando criamos algo valioso e criativo no lugar de lágrimas, lamentações e rancores, isso nos ajude a exorcizar de vez os fantasmas do(a) ex, a ponto de mudar a vida completamente. (bem, se o disco foi em vingança, o cara deve estar se roendo porque é um sucesso.) Na verdade, nossa porção paparazzi não consegue descobrir até o fim do álbum, que é muito bom por sinal, se o trauma da separação foi superado, mas fica claro que ela é quem foi deixada e isso é uma das coisas mais difíceis num término. Quando somos nós os responsáveis pelo rompimento, levamos tudo com mais leveza, podemos ficar pesarosos e até doloridos por um tempo, mas quando somos os rejeitados, o buraco é bem mais embaixo.

O tempo de recuperação varia de caso a caso. Mas, se houve entrega de verdade, vai pintar sofrimento até que o desapego esteja resolvido e a vida trate de colocar novas flores no caminho. E como aliviar a dor? Existem vários medicamentos: fazer milhares de amigos no facebook, conquistar várias pessoas por mês, transar duas vezes por semana, malhar uma vez por dia, comprar muitas roupas ou trocar o corte de cabelo (no caso das mulheres) e por aí vai... E também tem os que seguem uma outra linha: terapia duas vezes por semana, ioga todos os dias, cinemas acompanhados dos melhores e mais confiáveis amigos, dançar muito, falar ao telefone insistentemente sobre o ex-carcará, etc e tal. Mas, no fundo, o tempo de pausa é necessário, porque fingir que não está sofrendo não vai fazer com que o machucado desapareça.

Enfim, como tudo na vida passa, o jeito mais equilibrado de se curar de uma desilusão amorosa é refletir, tentar encontrar as respostas dentro de si, tipo, porque atraiu aquela pessoa, o que em si precisa ser mudado pra que uma relação mais saudável apareça no horizonte, qual a verdadeira causa interna do desencontro, é tudo culpa do outro ou eu também tenho responsabilidade? No livro do psicanalista Augusto Cury, Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis, ele explica que nossa mente guarda as memórias em compartimentos ou janelas, e elas podem ser light, killer ou power killer. O ideal é que após o término, com o tempo, todas as lembranças possam estar na porção light para que o próximo amor seja igualmente leve. Remoer é bom, mas só se no fim, o resultado for uma massa fina e doce, que vai nos ajudar a escolher e saborear melhor o próximo prato. Afinal, sofrimento tem limite.