domingo, 19 de abril de 2009

Recantos dos deuses


Dar ou Não Dar...

DAR OU NÃO DAR?

Regina, assustada, recebia no meio de uma reunião de professores, nas primeiras horas do dia, uma ligação que a preocupava. Letícia, sua filha de dezesseis anos, estava às voltas com uma questão muito delicada.
- Mãe, o que eu faço, o Juninho quer transar e eu não estou preparada...
- Filha, respirou, se você acha que ainda não está na hora, respeite o seu momento e tenha calma, afinal, vocês são jovens e têm a vida pela frente...
- Mas e se ele não quiser esperar e me trocar por outra...
- Aí, meu amor, sinto muito, mas ele não te merece...
Tudo era simples para Regina, uma experiente e bem casada professora de quarenta e dois anos. Lidar com adolescentes era sua especialidade, já que lecionava há mais de dez anos para essa delicada faixa etária. A questão da virgindade para ela foi mais fácil de resolver. Ela confidenciava às amigas:
- Gente, nem dá pra acreditar que eu me casei virgem e estou casada até agora com o mesmo homem.
As amigas menos afortunadas desabafavam.
- Você é uma mulher de sorte... Hoje em dia isso é muito raro. E sexo é uma parte importante da vida, sim. Acho que tem que conhecer antes para não ter choro depois...
Regina concordava, mas não sabia muito bem como resolver a questão dentro de casa, já que era a primeira vez que Letícia tinha um namorado fixo. Compartilhar o problema com o pai era uma hipótese inexistente. Mas Regina conhecia a maturidade da filha e resolveu confiar. Dias depois, a bronca e as lágrimas eram todas para a mãe, a culpada de tudo.
- Mãe, eu te odeio... Você disse que era para eu não transar e o Juninho arranjou outra namorada mais esperta que eu. Eu me odeio.
Diante de tamanho desespero, a mãe resolveu não contrariar, mas teve a impressão de que o caso ainda precisava ser estudado e trabalhado. Depois de grande relutância, as duas procuraram uma terapeuta especializada em sexualidade.
Roberta Soares era especialista na questão e atendia pessoas de todas as idades e para acalmar os ânimos, explicou para mãe e filha:
- Vocês podem ficar tranquilas, que não estão sozinhas.... Essa é a grande dúvida das mulheres modernas. Transar ou esperar o melhor momento? Essa é a grande questão.... Eu vou dar alguns exemplos sem especificar nomes para vocês entenderem. E isso não é um questionamento apenas de meninas da sua idade, mas de mulheres maduras e independentes também.
E começou...


...
Depois daquela sessão, Letícia se mostrou mais segura. Em casa ainda chorava muito a perda do primeiro namorado, mas na escola, fingia que não conhecia Juninho, o que deixava o rapaz desconcertado. Ela percebeu que ele evitava ficar com a nova namorada mais ousada perto dela e Letícia estava sempre linda e alegre. Ela resolveu esquecer Juninho de uma vez por todas e na próxima festa de aniversário, de uma amiga em comum, o jovem não agüentou de ciúmes, quando viu sua ex-namorada dançando com um outro menino. Ele olhou para ela com um ar furioso e quando teve a oportunidade, chamou Letícia para uma conversa particular.
- Você não perde tempo mesmo, não faz um mês que a gente terminou e já está dando bola para outro... Que papelão, só para me fazer ciúmes.
- Escuta aqui, Juninho, deixa de ser convencido, eu não quero nem saber de você. Eu fui trocada por outra e da pior forma possível, você foi um sacana, um insensível e eu vou procurar outro namorado sim que saiba esperar por mim.
- Poxa, Letícia, eu pensava que você gostava de mim...
- Eu gostava, mas o fato de não querer transar com você não tem nada a ver com não gostar de você... Tem a ver comigo, com os meus sentimentos e com a minha hora de transar. Eu ainda não estou preparada.
- Me desculpe.


...
Letícia, por sua vez, continuou namorando Juninho por vários meses, ele respeitou a decisão da namorada e parou de tentar levá-la para cama. Depois de um ano, era ela quem queria conhecer os mistérios e as delícias do sexo com amor:
- Amor, eu estou pronta, mas tem que ser muito especial.
Ele não acreditava no que ouvia e ficou radiante, empolgado e ao mesmo tempo nervoso. Era como se fosse a sua primeira vez também, mas ele queria que ela gostasse muito.
- Eu prometo que vai ser inesquecível.
Eles marcaram o dia. Regina levou a filha ao ginecologista e a médica explicou as formas de prevenção de doenças, ensinou como colocar a camisinha. Letícia estava muito nervosa e foi a mãe que acalmou a filha:
- Minha querida, não tenha medo, é natural e com amor, tudo fica muito bom.
- Mas não dói?
- Um pouquinho, mas não é nada insuportável e depois, fica melhor. O importante é relaxar.
- Mãe, me ajuda a escolher uma lingerie bem bonita.
Regina que achava que ficaria constrangida com essa experiência, estava na verdade muito feliz por dividir esse momento com Letícia. A mãe ajudou a filha e fez o último comentário:
- Olha, Letícia, mesmo se o Juninho pedir, insistir para não usar a camisinha, não faça isso, de jeito nenhum. Você promete?
- Prometo, mas eu tenho certeza que o Juninho não vai me pedir uma coisa dessas.

MORAL DA HISTÓRIA
O final eu não posso contar, se não estraga a surpresa, mas já adianto que é feliz.
Entramos no outono e eu fico me perguntando o que o conto tem a ver com essa estação fresca e calma. Acho que somos como a natureza, as folhas caem das árvores para que possam vir novos frutos, melhores e mais apetitosos. E na nossa história, a mãe teve que deixar suas folhas da sabedoria cairem para se aperfeiçoar e dar à filha uma nova oportunidade de ser sexualmente feliz. Os tempos mudaram, a idade para se começar essa experiência pode ter mudado, mas nós mulheres sempre encaramos o sexo como uma nova oportunidade de sermos felizes com uma outra pessoa. E isso não deixa de ser uma renovação e ao mesmo tempo um retorno à nossa inocência, ao romantismo, ao amor, à essência da vida. Fica aí o meu recadinho de outono para vocês. A palavra de ordem é RENOVAÇÃO.