sábado, 14 de março de 2009

Afrodite

DIÁRIOS DE AFRODITES

BRIGA DE CAHORRAS GRANDES

Andréa estava saindo de um relacionamento de cinco anos. Depois de todo o desgaste da separação, o sofrimento, a frustração, a descoberta de que o sonho acabou e sua porção Hera tinha sido esgotada, ela resolveu reagir. Afinal, ainda era uma bela mulher de trinta anos, corpinho de vinte e cinco. Se há males que vêm para o bem, a decepção fez com que ela perdesse os sete quilos inconvenientes que havia ganhado com o casamento. Agora, ela queria voltar a jogar o jogo da sedução. Tinha amigas que davam as dicas e a ensinavam todos os dias. Afrodites assumidas há mais de uma década, Renata e Amanda partiam corações sorrindo e ainda pisavam nos restos que sobravam. Eram mulheres maravilhosas, corpo moldado a horas de ginástica, comportamento prático, cabelos longos, loiros e castanhos, olhos penetrantes, estilo prático e objetivo. Quando o cara era lindo, carinhoso, romântico e rico elas investiam mais do que uma noite. Como isso era uma raridade, elas aproveitavam e se divertiam com os simplesmente gostosos. Não tinham urgência de se envolver, gostavam de sexo, podiam viver sem amor, mas não sem uma aventura. E para isso, era preciso uma boa lábia e uma boa língua. O comentário, no dia seguinte à conquista, no trabalho ou via internet era fatal, como uma flechada de Eros.
- O cara manda muito bem, gozei muito umas mil vezes.
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Andréa decidiu sair com o mais bonito, o homem tinha a altura de um jogador de basquete, o peitoral de um lutador de vale tudo, os ombros de um nadador e as coxas de um jogador de futebol e ela pensou “Porque não jogar um partida com esse deus grego?” E não perdeu tempo. Naquela noite mesmo, sem pensar em regras, em sociedade, em machismos ou desilusões, ela resolveu aproveitar a liberdade de estar solteira. E driblou o medo da possibilidade de aquele belo homem ser um maníaco sexual ou a empolgação fatal de ser ele o homem de sua vida. Simplesmente foi para a casa dele, tudo bem que estava bêbada, ela pensou “um pouco de álcool não faz mal nenhum para o pavor”. E o medo inicial passou, ele foi carinhoso, cavalheiro, ofereceu café, sentaram-se confortavelmente no sofá, enquanto ele colocava um filme no DVD. Andréa só pensava em agarrar aquele pedaço de paraíso e levá-lo para cama, mas nada acontecia. Ela decidiu jogar no ataque. Começou a beijá-lo no pescoço e no ouvido. Ele se fez de durão no começo, mas não resistiu e retribuiu com mais beijos ardentes e Andréa começava a achar que tinha mesmo se dado bem. Depois dos beijos, carícias íntimas, a cama. Os dois já estavam bastante excitados, mas faltava alguma coisa, uma atitude mais masculina, uma pegada mais forte... Ela não quis se enveredar por áreas desconhecidas e permaneceu receptiva, sem tomar iniciativas. E ficou a ver navios, o ato sexual foi automático e rápido, não deu nem para sentir direito o peso do corpo dele, quanto mais um orgasmo. Ela estava frustrada e pensou : “Ou os homens não são mais os mesmos ou tem algo de errado comigo”, entrou em pânico. No dia seguinte, foi ter uma conversa com as amigas. Veio então, a explicação para o fiasco.- Andréa, homem para ser bom de cama tem que ter algum defeito. Não pode ser lindo, forte, inteligente e bem sucedido, tudo ao mesmo tempo, se não o defeito vai aparecer logo na cama. Você tem que achar algum defeito antes.
...
Há dias, Amanda e Renata só falavam de um curso de marketing como que estavam fazendo como aperfeiçoamento e de como o professor era lindo. As duas estavam enlouquecidas pelo homem e tinham convidado Andréa para assistir a uma aula. Ela aceitou. Estava pronta para a partida mais difícil de sua vida, enfrentar as amigas no mesmo páreo. Quando apareceu do nada no curso, as duas desconfiaram:
- Você não agüentou de curiosidade, né...? Seja bem vinda ao paraíso. Mas nós ainda não achamos o defeito...
Quando o homem apareceu, Andréa sabia que elas estavam falando de um outro tipo de homem, o tipo mais perigoso possível, o envolvente, aquele que prende a atenção pela inteligência, o humor aguçado e o jeito de falar, alegria e descontração. Um homem bem sucedido, bem vestido, bem humorado e bem dotado. Elas não tiravam os olhos dele, cada detalhe, cada comentário, elas riam, perguntavam, ouviam com atenção. E não perdiam a oportunidade de mostrar sorrisos largos, movimentos labiais, cruzadas de pernas à mostra, cabelos calculadamente jogados de um lado para o outro. As três estavam se divertindo com a disputa, mas aquela era uma competição acirrada e cada passo era dado com precisão e muita astúcia. Na hora do intervalo, as três foram tomar café e Amanda, rápida no gatilho, sentenciou:
- Vou ao banheiro.
As outras duas se entreolharam e no fundo sabiam que aquele seria um ataque silencioso, mas como se não tivessem percebido a intenção escrachada, elas concordaram:
- Não demora muito, se não a comida vai para o espaço.
Amanda não perdeu tempo, quando viu o professor, vestiu seu melhor sorriso, enterrou qualquer traço de timidez e cara de pau e partiu para o elogio.
- Nossa, eu estou impressionada, como me diverti numa aula que era para ser tão séria.
- Que bom, ganhei meu dia. Obrigada.
As duas amigas, de longe, perceberam o perigo daquela aproximação e resolveram empatar aquele jogo. Renata pegou um sanduíche e foram as duas interromper o papo que parecia estar indo longe demais.
- Amanda, aqui o seu sanduíche, estava acabando, por isso eu trouxe. Oi professor, que aula hein...
Andréa ia ficando para trás, mas resolveu mudar o rumo daquela prosa.
- Sabe aquele estudo de caso que o senhor apresentou?
O homem interrompeu, sério, o que deixou Andréa ainda mais apaixonada.
- Nada de senhor, imagine, pare com isso...
- Desculpe, é respeito... Mas, como eu ia dizendo, aquele estudo de caso que você apresentou eu já vivi na minha loja e eu nunca poderia imaginar que com um treinamento tão simples, poderia resolver a situação...
- Pois é, é possível, às vezes com uma conversa podemos resolver muitos problemas operacionais na empresa.
Renata e Amanda não estavam gostando nada daquela conversa paralela e resolveram jogar pesado.
- Antônio, você disse que é paulista, quanto tempo vai ficar no Rio?
- Só até o final de semana.
Amanda aproveitou o lance de Renata para chutar ao gol:
- Se você quiser, posso mostrar a minha loja, é a maior da rede de cosméticos Boticáriol. E lá eu posso te mostrar vários casos vitoriosos de estratégias de marketing... Fica no shopping Rio Sul, conhece?
- Conheço, se eu tiver tempo, passo por lá. Vamos, a aula já vai recomeçar.
Renata e Andréa fuzilaram Amanda com um olhar e a amiga teve que se explicar mais tarde no almoço.
- Gente, foi mais forte do que eu, vocês duas também ficavam só no blá blá blá aí eu decidi atacar e deu certo...
- Tudo bem, se você quer guerra, vai ter guerra.
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No mês em que se comemora o Dia Internacional das mulheres, os trechos desse conto nos levam a reflexões sobre o relacionamento entre nós, seres do sexo feminino. A competividade das relações humanas chega aos extremos. Mas o fim do conto é bem poético e sugere um episódio do seriado Sex and the City, está no livro que em breve será publicado, mas adianto que se nós olhássemos para a nossa vida iremos reconhecer centenas de mulheres importantes e até mesmo imprescindíveis para a nossa caminhada. Quem é que nunca teve uma professora que nos inspirou um dia sermos mulheres independentes e elegantes? Ou uma amiga de infância que nos confidenciava suas aventuras românticas? Ou uma irmã que mesmo na convivência difícil do dia-a-dia, ouve suas histórias cheia de interesse? Uma mãe amorosa e paciente que te acolhe nos momentos mais difícies? Uma terapeuta que te coloca de novo nos trilhos da vida... Uma chefe que te impulsiona para o sucesso... Uma amiga que diz o quanto é sua companhia é especial... Pense na sensação de estar com essas pessoas... Os homens são importantes e queremos vocês bem perto, mas temos que começar a perceber o valor de ser e poder ter a companhia de uma mulher e deixar um pouco de lado essa sensação de que elas não são confiáveis. Nós mesmas à vezes despertamos esse sentimento nos homens e muitas vezes, sem querer, nos pegamos menosprezando o nosso próprio sexo.
Eu acredito nas mulheres como seres emotivos, sensíveis e delicados, mas também fortes, inteligentes, bem humorados, capazes de cair e levantar, e sobretudo Divinas.